sexta-feira, 11 de junho de 2010


Reconhecimento

Reconheço-me na inconstância das sombras
suspiros débeis na ventania
dor lancinante que não mais soluça
as cinzas desta linguagem fria.

Reconheço-me no hálito azul
útero grávido no brilho dos dias
regalo rompendo estrelas
revelando cintilantes alegrias.

Reconheço-me nas melodias em tom menor
raízes em olhares latentes
acordes florescidos de esperas
na solidão dos amores, presentes.

Reconheço-me nas palavras indomáveis
que na primavera evocam flores
nos horizontes singrados de ocasos
corpo de luz aberto em cores.

Reconheço-me na nudez das entrelinhas
onde verseja a inocência
na branda e despudorada verdade
que na linha desconhece analogia.

Reconheço-me no eco calcinado
no sossego de um grito perdido
sou desejo em vôo alçado
pela força da pedra, vencido.

Denise Reis

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