Poemas e Cia

No Olhar



No olhar pleno de céu
havia uma magoa
ainda não alçada
alvorada de paixão
prestes a ser anunciada.


Na boca um leve sorriso
insinuando desejos
amalgama de paixão
esconderijo de beijos.

Mas mãos doces caricias
das rosas – a suavidade
descobrindo novos limites
entre as flores e a eternidade.






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Toma-me os segredos
faz-me refém
de tua língua enlouquecida
diga-me inteira ou partida
luzente ou ferida
diga-me de maneira
silenciosa ou obsessiva.
as palavras morrem
se não forem ditas.

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Silêncio


Foi ali na soleira dos teus olhos

que debrucei a esperança dos meus

e ficamos a contemplar mistérios

que pousavam timidamente

entre uma felicidade e outra....


O contentamento, mais que asa

era céu e voô

alçando sorrisos primaveris...



Foi ali no beber tua alegria

que descobri:

todas as estradas são retas

e florescem tempo

quando nãose tem medo de morrer.
E o que é morre
senão um viver completamente?



Foi ali num abraço demorado

que as palavras prevendo a partida

anteciparan-se aos fatos

e disseram adeus

num aceno de culpa e saudade

numa promessa de infinito silêncio.






Denise Reis






Vacacaí Mirim






Era uma vez um rio

de águas límpidas e

pedras generosas.

Havia peixes, mergulhões

garças e marrequinhas.


Às margens , um tapete

Verdinho e aveludado

de limo, capim e treme-tremes.





O murmúrio da água

nas pedras, no mato

era uma orquestra,
bem maestradapelo vento inquieto.


Havia uma pinguela aventureira

palco suspenso,

para espectadores com asas.

Havia risos e gritarias.



Que pena !...



O rio virou vala.

Minguou o mato.

Calou o murmúrio.

O maestro enlouqueceu.

Ruiu o palco, as asas caíram.

Do tapete, só lembranças,

substrato de dor enorme

que supera todas as metáforas.



Que pena...
 Era uma vez o Vacacaí Mirim !






                                                                                 Denise Reis




Suicídio



Cá estou , sozinha sobre meu gesto...
sem saber ao certo

se o tempo se prolonga

em respeito a minha condição ou,

se minha condição é que se degrada

pelo prolongamento do tempo.



Os pormenores que o compõem

são letárgicos, não corrompem ,

não arrebatam , não revelam

apenas aguardam ...o esquecimento ou o perdão.



Cá estou, sozinha sobre meu gesto,

decidida a não mais dispor

da inocência das penumbras,

da desordem reacional das febres,

nem da clara inutilidade dos verbos

que perfilam-se servis.



Que importa o destino da frase

e a força conjugada do vento,

se o que teria que ser

não foi.



Que importa o tempo

e a delicadeza com que dizes não,

se estou vestida de toda nudez ,

bebendo paradoxos seculares

para confessar em metáforas

que cansei de esperar por ti.





               Denise Reis- Maio 2005




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